Deixam-nos Pescar um Pouco de mais Peixe para Comer

3 Fev, 2015 | Pesca

Apesar de não conseguirmos pescar todo o peixe que precisamos para comer, a ministra Assunção Cristas no final da reunião disse: “Foi um resultado histórico. Um aumento global de 18% dos totais admissíveis de capturas e quotas de pesca para 2015 que vai permitir a Portugal pescar mais 17 mil toneladas de peixe”.
Segundo o acordo, é nos carapaus que se regista a maior subida, cerca de 67% e ainda um aumento de 14% no tamboril, de 10% no biqueirão e de 15% no lagostim.
Como os portugueses são os que comem mais bacalhau no mundo, em vez de terem a quota de pesca deste peixe aumentada ela foi diminuída em 3%. Isto aconteceu porque a quota de bacalhau para Portugal tinha sido já negociada anteriormente entre a União Europeia, a Noruega e a Organização das pescas para o Atlântico Noroeste (NAFO). A Noruega queria-nos vender mais bacalhau e conseguiu.
Assim, em 2015 os armadores portugueses vão pescar menos 288 toneladas de bacalhau, num total de apenas 8.134 toneladas que podem pescar.
Também no que conta a um peixe nobre como a pescada das águas ibéricas, ficámos a perder e vamos ter a pesca deste peixe reduzida em 15%. Mais uma vez, no que respeita à pescada, não conseguimos ganhar 1 Kg de quota aos espanhóis.carapau

 

E agora quem vai pescar o carapau?

Agora os armadores portugueses da pesca de cerco vão poder pescar um total de 45.308 toneladas de carapau. Em 2013 só foram capturadas 19 mil toneladas.
Porém, a nossa frota, constituída por poucas e antigas embarcações, não tem sequer capacidade para pescar esta quantidade de carapau. São embarcações que se dedicam principalmente à pesca da sardinha que tem mais valor.
Na última semana de Dezembro, em nove lotas do país, onde se descarregou mais carapau, (Póvoa do Varzim, Matosinhos, Aveiro, Figueira da Fóz, Nazaré, Peniche, Sesimbra, Sines e Portimão), o preço médio de venda do carapau foi de 1,48 € / Kg. E o preço esteve melhor porque a sardinha está proibida de pescar.
Há alturas em que o carapau não se consegue vender por mais de 0,64 € / Kg.
A um armador do Norte que pesca sardinha a quem pedimos um comentário disse-nos: “Aumentaram-nos em 67% a quota do carapau, porque os espanhóis não o querem pescar, devido a ser um peixe com pouco valor”

Com a adesão à CEE mal negociada deixámos de poder pescar para comer
Foi em 1986 que o Governo que negociou a entrada de Portugal na CEE, não teve em conta a economia da pesca como a nossa principal riqueza a preservar. O Mar deixou de ser um desígnio estratégico para Portugal.
Aproveitaram bem todos os outros países europeus, para quem o Mar continuou a ser fundamental para o seu desenvolvimento económico.
Os portugueses foram sempre os que comeram mais peixe na Europa e há séculos que iam à Terra Nova pescar o bacalhau que era então a matéria-prima de uma importante indústria em Portugal. Isto podia ter sido negociado para nos mantermos a pescar bacalhau, em vez de entregarmos a pesca deste peixe a outros países que passaram a desenvolver essa indúsdtria e exportá-lo para Portugal.
Em vez de uma estratégia nacional para o Mar, o Governo de então e os seguintes, entusiasmaram-se com o dinheiro de Bruxelas e deixaram para trás todo o potencial de Portugal para o Mar.
Os nossos Governos aceitaram de tal modo o abate de embarcações de pesca que em poucos anos foram abatidos milhares barcos. Foi preciso a CEE dizer que não dava mais dinheiro para o abate, porque já tínhamos queimado mais de 60% de embarcações do que era necessário, para se acabar com este crime.
O objectivo de reduzir as capturas acabou por prejudicar principalmente Portugal que perdeu quotas para os países do Norte da Europa que tinham o objectivo de aumentar as exportações dos seus excedentes para os países do Sul.
Ao contrário de Portugal em Espanha houve uma política de apoio ao sector das pescas, principalmente na Galiza e a frota de pesca procurou rapidamente outras paragens e apostou na pesca longínqua. Mas mesmo nas nossas águas os espanhóis continuam a usufruir de vários quinhões de quotas.
 
É importado dois terços do peixe consumido em Portugal
O consumo de peixe per capita em Portugal é de 57,2 quilos, Ou seja, um total de mais de 572 mil toneladas e apenas pescámos 144.654 toneladas. Em consumo de peixe estamos no terceiro lugar mundial, atrás da Islândia com 91 Kg e do Japão que consome 58,6 Kg. Na UE, o consumo é em média de 21,5 quilos por pessoa, menos de metade dos portugueses. As principais espécies pescadas em Portugal são: sardinha cerca de 60 mil ton., cavala 20 mil ton., carapau 19 mil ton., peixe-espada preto três a quatro mil ton., cavala 2.500 ton., pescada 2.000 ton., e outras espécies como polvo, raia, congro, e faneca.
Segundo o INE, o peixe vendido em lota atingiu, em 2013, um valor global de 253 milhões de euros, cerca de 30 milhões de euros abaixo do que fora obtido em 2012. O peixe fresco e refrigerado que foi transaccionado nas lotas portuguesas em 2013 caiu 4,4% face ao ano anterior, para 144.654 toneladas, o que representa o valor mais baixo dos últimos anos.
Dos 9.600 barcos existentes em 1993 o INE refere que a frota atingiu o seu valor mais baixo dos últimos oito anos, com 4.527 embarcações registadas em 2013 e o número de 16.797 pescadores inscritos nas capitanias.
Como foi abatida grande parte da frota de pesca e temos quotas para cumprir em muitas espécies, não conseguimos pescar todo o peixe que precisamos para comer. Assim, as importações já chegaram aos 1.451 milhões de euros, para pagar dois terços do que consumimos. Foram quase 400 mil toneladas que entraram em Portugal para compensar o défice de extracção.

Para incentivar o pescador ele tem que vender o peixe directamente a quem quiser

O actual sistema de pesca da obrigação do peixe ir à lota e o pescador não o poder vender a clientes directos, prejudica muito os pescadores, pois impede-os de comercializar o peixe por um preço que consideram justo.
As lotas estão muitas vezes subordinadas aos interesses dos intermediários que impedem que o peixe suba para valores de venda compensadores para o pescador.
Às associações de pescadores pode caber um papel importante para se organizar a comercialização do peixe fora das lotas.
Este sistema já foi implantado em Vila Praia de Âncora e tem funcionado bem.
A economia do país só tinha a ganhar se os pescadores vendessem o peixe que pescam por valores maiores.
Os pescadores ficavam com melhores disponibilidades para investir na modernização dos barcos, nos equipamentos e aparelhos de pesca.
Com o peixe a ser vendido por valores superiores do que é actualmente, o Estado passaria  a receber mais receita. 

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