Portugal tem o Melhor Peixe do Mundo

18 Nov, 2014 | Economia do Mar

(Veja o artigo publicado no Notícias do Mar n.º335 de Novembro)

O Professor Luís Saldanha, biólogo marinho que se distinguiu no estudo da fauna marinha do Atlântico Nordeste, foi professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, bem como presidente Instituto Nacional de Investigação das Pescas e autor do livro Fauna Submarina Atlântica, dizia: “ a riqueza dos peixes da nossa costa não é apenas haver uma grande variedade que se pode comer é a sua extraordinária qualidade” .anzois
Luís Saldanha, grande defensor dos parques e reservas marinhas, teve como homenagem, após a sua morte, o seu nome dado ao primeiro parque marinho em Portugal, o Parque Marinho Professor Luís Saldanha, em Sesimbra.
Hoje os cientistas sabem que a abundância de peixe é influenciada pela existência de condições favoráveis de temperatura, iluminação, salinidade e oxigénio das águas, das quais depende a existência de maior ou menor quantidade de plâncton, organismos microscópios vegetais, o fitoplâncton, ou animais, o zooplâncton, dos quais muitas espécies de peixe se alimentam.
Como as referidas condições dependem da profundidade das águas e das correntes marítimas, existem nos oceanos áreas de maior e menor abundância e diversidade de espécies.

A plataforma continental de Portugal tem as condições ideais para a abundância de peixe

Portugal tem a plataforma continental com início nas praias e nas falésias, estendendo-se submersa com uma profundidade média de 200 metros até começar a afundar, numas zonas num declive suave e noutras abruptamente. Tem ainda a desaguar quatro importantes rios com grande caudal, o Tejo com o maior estuário da Europa, o Douro, o Mondego e o Sado.
Devido a este conjunto único de circunstâncias, a quantidade e a diversidade de fauna marinha são maiores na plataforma continental e existem consideráveis condições favoráveis à abundância de recursos piscatórios.
Porque as águas são pouco profundas, o que permite uma maior penetração da luz.
Devido às águas possuírem menor teor de sal em virtude de receberem as águas dos rios.
As águas são também mais ricas em nutrientes, pois existem excelentes condições de luz e oxigénio para a formação de plâncton e recebem também muitos resíduos orgânicos levados pelos rios.
Igualmente as correntes marítimas, com deslocações de grandes massas de água com diferentes características de temperatura e densidade, são muito favoráveis à abundância de peixe, principalmente na área da confluência de uma corrente fria e de uma corrente quente.garoupa
As águas agitadas proporcionam a renovação da água e do plâncton e favorecem bastante a renovação dos stocks.
A corrente quente do Golfo atinge a Europa através da sua deriva do Atlântico Norte. Portugal recebe uma ramificação desta deriva, já em deslocação para sul, que atinge a costa portuguesa, onde toma a designação de Corrente de Portugal. A sudoeste do território, esta corrente encontra-se com a Corrente Fria das Canárias, contribuindo para o aumento da existência de peixe.
Quando aparecem as nortadas, nos meses de verão, com os ventos fortes do Norte, soprando junto ao litoral, provocam o afastamento das águas superficiais para o largo.
Gera-se uma corrente de compensação, com as águas profundas a ascenderem à superfície para substituir as que foram afastadas pelo vento. Como as águas de maior profundidade são mais frias, provocam uma maior agitação das águas e a diminuição da temperatura.
Também a subida das águas profundas favorece a oxigenação, criando condições para a formação de fitoplâncton. Esta corrente de compensação faz ainda ascender à superfície grandes quantidades de nutrientes, atraindo os cardumes.
Dizem os estudos efectuados que é graças a este fenómeno, chamado de “upwelling”, que ocorre nos meses de verão, que há maior quantidade de espécies como a sardinha e o carapau, na costa portuguesa.

Se temos o melhor peixe do mundo devemos garantir a sua qualidade
gorazSe está provado cientificamente que Portugal tem o melhor peixe do mundo, também se sabe que a plataforma continental é relativamente estreita ao longo de todo o litoral português, sendo quase inexistente nas Regiões Autónomas devido à origem vulcânica dos dois arquipélagos.
Ao longo do litoral continental, a sua largura varia, no geral, entre 30 e 60 km, atingindo a máxima extensão de 70 km ao largo do cabo da Roca.
Devido a isto, a plataforma continental corresponde apenas a 1% da nossa Zona Económica Exclusiva, onde nos cabe a conservação, fiscalização e gestão dos recursos naturais.
Hoje sabemos que o Oceano, um dos principais reguladores do clima, está a ser cada vez mais afectado pelas mudanças climáticas, provocando sérios impactos na composição dos recursos pesqueiros tradicionais da costa portuguesa, que poderão desaparecer em parte ou até na totalidade.
Se os melhores pesqueiros se encontram nesta estreita faixa, devemos considerar que esta é uma limitação grave para a pesca portuguesa e devemos utilizar com cuidado as artes de pesca adequadas ao peixe que os portugueses gostam de comer e também exportam, porque o que é exportado tem que ter a máxima qualidade.
A qualidade do peixe depende primeiro da forma como é pescado e depois como vai ser manuseado.

A pesca que se faz com determinadas artes não preserva os recursos
Os cientistas já estudaram e sabem quais são as artes de pesca nocivas aos fundos marinhos e aos stocks e que devem ser reconvertidas ou eliminadas.
A pesca com redes de emalhar de fundo já foram proibidas nas grandes profundidades, mas ainda se fundeiam em toda a plataforma continental.
O palangre de superfície ou palangre de fundo, sistema de pesca de aparelho com anzóis, captura o peixe sem agressão e é também o processo de pesca que apresenta o peixe de melhor qualidade, o único reconhecido internacionalmente com qualidade superior e aceite para a exportação.
Esta arte de pesca garante também maior número de postos de trabalho e deveria ser mais bem apoiada, reservando-se zonas no nosso litoral exclusivas para esta pesca e onde as redes de emalhar de fundo não pudessem ser colocadas.
Países como Marrocos, já só passam licenças à pesca do palangre, ou redes de emalhar mas de algodão. Proibiram completamente as redes de nylon.
Há redes de emalhar de fundo com 2,00 metros de altura específicas para pescarem os salmonetes, os linguados e outros peixes de areia que estão poucas horas fundeadas e quando são levantadas o peixe está com a máxima qualidade.cherne
A maioria das restantes redes de emalhar de fundo, têm 10,00 metros de altura e podem ter dezenas de quilómetros de comprimento.  
Estas redes são enormes paredes que são colocadas para apanhar tudo. Os peixes, quando são apanhados nestas redes, ficam lá presos a debaterem-se e feridos até morrer. Quando as redes são levantadas, a maior parte delas dias depois, grande parte do peixe é deitado fora, pois não está em condições de ser levado à lota ou não tem valor comercial. Acaba por ser levado à lota apenas o que foi capturado nas últimas horas. Após morrer o peixe entra em decomposição e depois começa a ser atacado pela pulga-do-mar e pelos caranguejos.
robaloIsto é o que acontece todos os dias na nossa costa a toneladas de peixe, que morre nas redes de emalhar de fundo, porque deveriam ser levantadas todos os dias e não são.
O peixe com melhor qualidade e com maior valor nas lotas, como o cherne, o pargo, a garoupa ou o robalo é aquele que é pescado pelos anzóis dos palangres. A maior parte deste peixe é exportado.
Todo o peixe que vai à lota pescado pelas redes de emalhar é sempre vendido por menor preço.
Dos peixes mais apreciados pelos portugueses, a sardinha é capturada pelas artes de cerco, que também pescam o carapau e a cavala. Este tipo de pesca, que serve os consumidores do peixe fresco e da indústria conserveira, é dos que mantém o peixe com a melhor qualidade até chegar à lota.   
Temos o melhor e mais diversificado peixe do mundo para comer e exportar, com qualidade comprovada agora também pelos melhores “Chefs” internacionais.
Temos também a Legislação adequada.
 O que nos falta é uma fiscalização rigorosa e dar à Polícia Marítima os meios para esta fiscalizar convenientemente toda a plataforma continental e conseguir levantar as centenas de quilómetros de redes de emalhar de fundo que estão fundeadas ilegalmente.
Se isto não for feito depressa, vai acabar o peixe melhor do mundo, pescado na nossa especial e única plataforma continental.

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